Tensão e distensão no semblante de um Santo

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Revista Catolicismo, Nº 764 (agosto/2014)

São Pio X

       Plinio Corrêa de Oliveira (*)

 

Nos jardins do Vaticano, o Papa São Pio X acolhe visitantes distintos, que lhe apresentam suas homenagens. O corpo do Papa, ereto e vigoroso apesar dos anos, dá uma impressão de ascese e firmeza, mas alguma coisa em sua pessoa, e sobretudo a fisionomia desanuviada, exprime repouso e distensão. É que o Santo está passeando em instantes de lazer. O sorriso afável, quase carinhoso, o gesto do braço que se estende, da mão que se abre, exprimem uma colhida franca e paternal. Em todos os circunstantes nota-se o efeito da presença do Pontífice: muito respeito, que não exclui uma suave e natural alegria. O lazer de um Santo nunca é porém esquecimento de seus deveres. Note-se quanto o olhar com que o Pontífice considera o visitante que o cumprimenta, é atento e penetrante. São Pio X era excelente psicólogo, e várias das pessoas que com ele falavam tinham a impressão de que lia nos seus corações.

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São Pio XConsideremos a segunda foto. O olhar diz tudo. Firme, sereno, lúcido, parece perscrutar com impressionante nitidez, com dor, mas com coragem, um horizonte muito fundo, carregado de nuvens pesadas. Tem-se a impressão de que em sua alma se passa o mesmo que na de um capitão, atônito com o vulto da tormenta que se apresenta, mas disposto a prosseguir intrepidamente na rota traçada. Esta resolução do Papa Santo se nota aliás em todo o seu ser: ainda aqui, corpo ereto e forte dá uma viva impressão de robustez, apesar da idade.

Quão grande é o fardo das preocupações, di-lo a cabeça, um pouco pendente, o corpo quase imperceptivelmente arqueado. O Papa parece atingir o ápice do seu Calvário. Tem a alma amargurada com os pecados do mundo, e vê ao longe os castigos que se acumulam no horizonte. É a guerra mundial que se aproxima, com seu cortejo de desastres materiais e morais, e as ruínas políticas, sociais, econômicas e principalmente religiosas do pós-guerra. Mas todo o seu estado de espírito é de quem conserva uma grande paz interior: “Ecce in pace amaritudo mea amaríssima”… (“Encontrei a paz na minha amaríssima aflição”, Isaías 38-17).

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 (*) Este texto, publicado na edição de novembro de 1954 de nossa revista, pareceu-nos muito adequado para figurar também na presente edição em homenagem a São Pio X, no centenário de se falecimento . A Direção de Catolicismo.

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